sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Carta aberta
De: [arthurcs91@gmail.com] ;
Para: [Steve.jobs@sky.com]
Olá Steve!
Aconteceram algumas coisas nesse último ano que eu gostaria de te contar.
Exatamente um ano atrás eu estava assistindo ao jornal quando a
apresentadora dá uma notícia de última hora "A Apple acabou de confirmar
em seu site oficial, a morte de Steve Jobs". Não lembro ao certo a
exclamação que eu soltei, mas lembro que meu pai foi até a sala ver se
estava tudo bem comigo. Algumas horas depois ao telefone me disseram
"Estás com a voz triste". Sim, sou o que os rotuladores chamam de AppleFag. Creio que JobsFag rotule melhor, mas pra mim isso não importa. No
dia seguinte o mundo sofreu uma enxurrada com as palavras "Gênio",
"Visionário", "Revolucionário" e discursos óbvios e iguais. Por um momento pensei que seria bom ver as homenagens, mas mudei de opinião quando fizeram em um programa de culinária pela manhã. Inacreditavelmente o lançamento do iPhone 4S que, ocorrera no dia anterior, foi meio ofuscado, mas não o suficiente para quebrar os recordes de vendas.
Semanas se passaram e o FBI divulgou um dossiê que investigou tua vida no início de 1991 com o intuito de te contratar para ser ministro no governo do papai Bush. O relatório falava sobre o uso de drogas como LSD e haxixe nos sóbrios anos 80. Além destas revelações que nunca foram negadas por ti, também foi relatado como era difícil a convivência com o teu perfeccionismo e os difamados "campos de distorção da realidade". Bullshit! Entretanto, todos que relataram essas características tenebrosas, te consideraram adequado para o cargo. Que ironia, não?
Em alguns aspectos a Apple preocupa. Algumas unidades de malwares foram identificadas em aparelhos, nada alarmante, mas para sistemas praticamente intactos acabou sendo notável.
O Tim Cook tem fibra, é um grande empresário, superou bem o ciúmes dos fãs e os questionamentos sobre sua capacidade (inclusive os meus). Ultimamente está sendo questionado por estar tornando a empresa mais burocrática com o contrato de vários MBA's engravatados. No entanto, as apresentações continuam impecáveis e enxutas, a AAPL em Nasdaq quebra recordes em sequência e o iPhone 5 tem um design absurdamente sedutor, simplificado ao último grau da sofisticação.
A Samsung, obviamente, perdeu na justiça a briga pelas patentes. Foi um duelo áspero, os advogados da Apple fizeram um excelente trabalho e não havia nada que os outros pudessem fazer, era inquestionável. Bom ver que roubos descarados são punidos, mesmo que de forma branda, já que a indenização foi de apenas 1 bilhão de dólares. Acredita que eles não se deram por satisfeitos e ainda vão recorrer? O dinheiro nem importa, a questão é de princípios e valores, como disse o próprio Sr Cook. Sabe, eu queria que tivesses vivido para eu poder ver a extinção do Galaxy...
O meu Mac e o meu iPhone ainda seguem como metas. Os preços brasileiros são muito abusivos. Por mais que eu pense em importação, é mais fácil entrar no Brasil com cocaína do que com um Apple. Quando eu crescer eu vou descobrir qual imposto faz um MacPro sair de Cupertino por U$2,2 mil e chegar na outra ponta da América custando R$10 mil.
Eu sei que é clichê, mas tu foi um exemplo não só na área profissional, mas também pessoal. Que tipo de pessoa largaria a faculdade para fazer um curso de caligrafia e uma viagem à Índia e mudaria o mundo com isso? Que tipo de pessoa resolve criar um ramo de mercado tendo uma muralha chamada IBM na sua frente? Que tipo de pessoa criaria um conceito de produto inimaginável para a época e deixaria ele acessível para o uso de pessoas comuns? Que tipo de pessoa destruiria todo o conceito de computador pessoal 30 anos depois de ter criado-o, pela simples necessidade de inovação? Que tipo de pessoa conseguiria ser demitida da empresa que fundou, e volta alguns anos depois pra tirá-la do buraco e colocá-la no topo do mundo? Que tipo de pessoa conseguiria estar a frente de uma empresa que lucra bilhões com o consumo e ser zen-budista sem deixar que esses dois mundos se choquem? Que tipo de pessoa conseguiria ter também capacidade de estimular pessoas a fazerem o melhor trabalho de suas vidas e produzir resultados que nem elas imaginavam ser capazes? Que tipo de pessoa conseguiria ter uma capacidade de oratória que a fizesse ser ovacionada toda vez que apresentava um produto novo? Que tipo de pessoa teria claramente para si as tendências de design do mercado? Que tipo de pessoa descobriria um câncer e usaria isso como estímulo para trabalhar e inovar mais, ao invés de largar tudo? Que tipo de pessoa dá um discurso para uma turma de formandos de Harvard e aconselha os alunos a "manterem-se tolos"? Que tipo de pessoa embora debilitada de saúde, trabalha até o último mês de vida? Que tipo de pessoa tem tato para admitir que não é mais útil para a sua empresa e renuncia o cargo de CEO? Essas e outras perguntas me perturbam e me motivam
Resta-me uma dúvida: É verdade a história de que no primeiro diagnóstico de câncer terias trocado o tratamento convencional por um tratamento alternativo? Porra Steve, que merda!
Por fim, o meu muito obrigado! Tu faz uma falta enorme!
ATT Arthur Silva
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